CARACTERIZAÇÃO DOS TRÊS ASPECTOS DA CONSCIÊNCIA
Para John
Searle, a natureza da consciência possui três aspectos essenciais: é interior, qualitativa e subjetiva. Há estados de consciência dos mais diversos
tipos, desde os que se referem a sensações físicas presentes neste exato
momento (a vista ofuscada por uma luz à minha frente, o cheiro do café que
acaba de ficar pronto, o roçar em meu rosto da cortina soprada pelo vento) até os
provocados por imagens ligadas ao meu passado ou a projeções futuras: desejos e
toda diversidade de sentimentos como saudade, angústia ou irritação.
A
internalidade, ou seja, a característica de ser um fenômeno interno, é
intrínseca aos estados de consciência da mesma forma que a característica
líquida é intrínseca à água ou como a solidez é, necessariamente, propriedade
de uma barra de ferro. Isso porque não encontramos estados de consciência fora
de um organismo ou de algum outro sistema. Os estados de consciência também são
internos no sentido de que cada um deles só é identificável como parte de um todo
formado pelos diversos estados de consciência de uma pessoa. Isso quer dizer
que um estado de consciência nunca está isolado mas sim posicionado de maneira
específica e relacionando-se com cada elemento de uma complexa rede de outros
pensamentos, experiências e lembranças. Por sua vez, o sistema de estados
mentais inteiro é quem deve ter uma relação com o mundo externo. Assim, estados
mentais são ontologicamente participantes de uma sequência de estados
conscientes complexos que constituem a vida consciente de uma pessoa.
Diz-se
que estados de consciência são qualitativos
no sentido de que há um determinado modo de sentir cada um deles. Os modos de
sentir são constituídos por suas características qualitativas próprias. O ato
de beber vinho, por exemplo, tem um modo próprio ou qualidades que lhe são intrínsecas
muito distintas do modo que há no ato andar de bicicleta. Portanto, esses modos
múltiplos são percebidos pela consciência em função de suas qualidades específicas, as
quais formam estados desta consciência. Segue-se daí que os modos de sentir de
cada pessoa são únicos pois cada um de nós possui sua própria rede de conexões de
estados de consciência dependentes uns dos outros, como vimos acima quando nos
referimos à internalidade destes estados. Entidades que não são conscientes não
possuem modos de ser. Não há um modo de ser uma casa ou uma árvore.
O
terceiro e último aspecto da consciência é a subjetividade, no sentido de que é
sempre um sujeito quem vivencia a consciência. Diz-se que o modo de existência
dos estados de consciência apresenta-se sempre na primeira pessoa porque estes
estados só existem a partir do ponto de vista de algum agente, organismo,
animal ou pessoa. Há entidades que têm um modo de existência na terceira
pessoa porque suas existências não dependem de ser experimentadas por um
sujeito, são entidades objetivas como montanhas, rios, nuvens e vulcões. Os
estados de consciência que experimento são subjetivos porque dependem de mim,
sujeito único porque possuidor de uma sequência própria de estados de
consciência que constituem minha vida consciente. Por terem consciência,
sujeitos humanos ou animais podem experimentar estados cujos modos de
existência são subjetivos, como dores, cócegas e coceiras além de pensamentos e
sentimentos. É apenas do ponto de vista de um sujeito que uma dor pode ser
sentida.