quarta-feira, 18 de novembro de 2015

DEFINIÇÃO DE NÚMERO NA METAFÍSICA DE ARISTÓTELES.

Na Metafísica de Aristóteles, a aritmética é um campo de estudos capaz de nos mostrar, com bastante clareza, alguns dos aspectos mais importantes de seu sistema filosófico: um desses aspectos é a definição de substância. Para o filósofo grego há, em nosso universo, uma substância primordial, da qual tudo se deriva, causa primeira de tudo o que existe e que não é causada por nenhuma outra coisa. Esta substância primordial e imóvel estaria eternamente presente no universo. Em outras palavras, a substância é um ser que não é inerente a outro e “nem se predica de outro: existe independentemente e não é predicada de algum substrato, mas é aquilo do qual todo o resto é predicado” (In: Metafísica, Aristóteles). A substância, portanto, pode ser chamada de “um primeiro”.

Então vamos transpor esta definição de substância para os números. Sabemos que todo e qualquer número natural é composto por unidades e que essas unidades não se diferenciam umas das outras. Quer dizer, para os números, a substância primordial é a unidade. Ela é aquilo de que todos os números são compostos. Por isso, podemos dizer que, para os números, a unidade é a substância primeira. Com efeito, o número dois, por exemplo, é composto por duas unidades, o três, por três unidades, e assim por diante. Tais unidades não se diferenciam entre si, são indistintas, ou seja, nenhuma unidade é maior ou menor que a outra, todas são idênticas e imutáveis. Na linguagem própria à Filosofia, dizemos que os números não são formados por uma multiplicidade de particulares. Por exemplo: o número 3, que é composto por 3 unidades é igual a 1a + 1b + 1c, sendo  cada uma dessas unidades como um clone da outra, sem distinção de quantidade ou de qualquer outra forma de diferenciação. Portanto, não é verdade que 1a  é menor ou maior que 1e este menor ou maior que 1c.

Em Aristóteles, também encontramos os conceitos de matéria e forma e os de potência e ato aplicados aos números. De acordo com o filósofo grego, matéria é tudo aquilo de que algo é composto; forma é o ser ou a ideia presente na matéria e que dá sentido a ela. Assim, por exemplo, tendo madeira como matéria, a ela podemos submeter a forma canoa ou outras formas como as de mesa, cabo de vassoura ou cassetete. Estas são formas que contêm a ideia universal que temos do que sejam essas coisas. Em relação aos conceitos de ato e potência, neste mesmo exemplo temos que a madeira tem, em potência, todos os objetos que dela podem ser derivados.

E como estes conceitos são transpostos para os números? Como explicamos anteriormente, no sistema aristotélico a unidade da qual se compõe todos os números é relacionada à substância primordial, imóvel e eterna, causa incausada, causadora de todas as outras coisas, também chamada motor imóvel do universo. Para Aristóteles, a unidade numérica, por ser a substância dos números, deve ser entendida muito mais como forma, que é princípio de determinação ou, pelo menos, como sínolo (junção) de matéria e forma, porque trata-se de algo que é determinado, que tem uma essência ou um sentido em si mesmo. Ele afirma que a unidade não pode ser entendida como matéria porque esta é indeterminada, ou seja, não assume certos limites capazes de lhe conferir um sentido.  Ainda de acordo com Aristóteles, a unidade se relaciona mais ao ato, que é uma existência efetiva, do que à potência, que é poder-ser, ainda-não-ser.