ÉTICA
1-Kant
Pensava que as leis morais têm de ser universais e impessoais. Se é correto que
eu faça uma determinada coisa, então é correto para qualquer pessoa nas mesmas
circunstâncias fazer a mesma coisa.
Como justificar a pretensão de universalidade afirmada por Kant?
Para Kant,
a convivência entre seres humanos deve ser mediada por um ethos formado por princípios
racionais que dizem respeito a todos. Tais princípios devem levar em conta o
“fato da razão prática” que manifesta o deve-ser posto sob o domínio de nossa liberdade
incondicionada para fazer escolhas e agir de acordo com estas escolhas. O
filósofo alemão diz que só agimos moralmente quando isentos de qualquer
determinação ou imposição para agir exterior a nós mesmos, estranha à nossa
autonomia para decidirmos ou escolhermos por deliberação própria. Isso porque a
verdadeira moral tem como pressuposto básico a liberdade que é indissociável da
razão prática com a qual estruturamos nossas ações. É por meio da razão livre
que percebemos que somos capazes de constituirmo-nos a nós mesmos, ou seja, de delinearmos nosso telos conforme a orientação que damos à
nossa vontade. Descobrimos, assim, que o homem é um fim em si mesmo e que se
depara com seus semelhantes ciente de que eles também são portadores do mesmo
potencial de liberdade intrínseco á razão. Por isso, a convivência entre seres
potencialmente livres deve ser estruturada por normas de convivência que
respeitem essa liberdade. Isto só é possível com o exercício permanente da
racionalidade reveladora de princípios universais capazes de gerar normas de
convivência entre todos os seres racionais.
Portanto, a moral universal é aquela que leva em conta a
liberdade individual mas a coloca em permanente tensão com a liberdade de todos
os seres humanos, uma vez que, para Kant, precisamos supor uma comunidade de
vontades a priori para pensar a
liberdade como razão prática. A liberdade só pode ser pensada, então, como
relação da liberdade de cada pessoa com todas as outras liberdades individuais.
II-O valor
moral de uma conduta depende dos motivos e os motivos são dados pela máxima que
o agente aplica ao decidir o que fazer. Como Kant justifica a afirmação acima?
Para saber
se deve ou não agir de determinada forma, uma pessoa consciente deve formular para
si mesma uma pergunta, ou máxima, cuja resposta irá fornecer os motivos que
podem nortear sua conduta. Para saber se as ações orientadas pela resposta
serão verdadeiramente morais, é preciso verificar se elas serão ações livres de
determinações exteriores à pessoa ou se apenas cederão a impulsos e/ou coações
do plano sensível a que estamos sujeitos. Para Kant, as ações morais vão de
encontro (no sentido de contrariarem) às determinações comuns ao plano
sensível, pois são ações que fazem sobressair o que a humanidade tem de mais
peculiar e de mais grandioso: a liberdade. Assim, uma vez que os motivos
escolhidos sejam os que levam em conta a liberdade, a ação seguirá os
princípios da racionalidade que tende à universalidade ( a racionalidade nos
leva à universalidade) pois a liberdade referida por Kant é em seu mais amplo
sentido: liberdade que leva em conta o respeito à liberdade de todos e de cada
um em particular. A razão, sendo livre em si, não pode prescindir da liberdade.
III- Segundo Hegel,
na eticidade há a
identidade entre vontade subjetiva e o bem comum, ou seja, há a presença dos
momentos de subjetividade e de objetividade.
Explique o que é afirmado acima e tente construir o processo de
conciliação entre subjetividade e objetividade.
Hegel sustenta que a eticidade substancializa-se na cultura, instância
mediadora de nossa relação com o mundo e com as outras pessoas e onde se dá a
dimensão do universal humano. Todos já nascemos, portanto, universalizados
porque nascemos no seio de uma cultura. No decurso da vida, entramos em contato
com os múltiplos valores transmitidos pela cultura, valores com os quais vamos
constituindo nossa própria subjetividade em um processo constante de
assimilações, associações, interpretações, expressões, enfim, todo tipo de
relação que estabelecemos com o mundo físico e com os outros seres racionais. É
por isso que, para Hegel, subjetividade e objetividade não estão isoladas uma
da outra como nos fazia pensar a tradição da modernidade. Para ele, a afirmação
da subjetividade só ocorre no âmbito da eticidade que se manifesta
historicamente. O pensamento hegeliano é circular, pois tem no indivíduo apenas
um momento do processo de universalização. Em sua relação com o mundo, o
indivíduo abandona sua singularidade e retorna a si mesmo mas nunca no mesmo
ponto de partida uma vez que elevou-se no plano da universalidade. Dito de
outro modo, a razão (universal) não elimina a esfera do sentimento (subjetiva e
restrita ao indivíduo) mas a supera, assume-a, tornando-a inteligível,
conceitualizando-a. Graças a esse processo de universalização há a
possibilidade de comunicação das consciências. Ao contrário da filosofia
kantiana, que considerava o universal como algo transcendente, a filosofia de
Hegel concebe o universal como o que emerge historicamente e possibilita o ser
do homem. Este, portanto, não é mais o sujeito que constrói por si só a própria
subjetividade, como se estivesse separado do mundo em uma posição solipsista
que caracterizou a modernidade. Tampouco, para Hegel, a subjetividade que se dá
na singularidade do sujeito é eliminada: ela é, sim, parte constituinte do todo
da dimensão humana integrado em suas múltiplas contradições. É assim que Hegel
supera o dualismo legado pela modernidade. Para o filósofo, individualidade e
universalidade não se excluem uma à outra mas são partes de uma mesma dinâmica
em que se retroalimentam ou se contradizem, não podendo ser pensadas
separadamente.
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