terça-feira, 7 de outubro de 2014

ÉTICA EM KANT E HEGEL.

ÉTICA
1-Kant Pensava que as leis morais têm de ser universais e impessoais. Se é correto que eu faça uma determinada coisa, então é correto para qualquer pessoa nas mesmas circunstâncias fazer a mesma coisa.
Como justificar a pretensão de universalidade afirmada por Kant?

Para Kant, a convivência entre seres humanos deve ser mediada por um ethos  formado por princípios racionais que dizem respeito a todos. Tais princípios devem levar em conta o “fato da razão prática” que manifesta o deve-ser  posto sob o domínio de nossa liberdade incondicionada para fazer escolhas e agir de acordo com estas escolhas. O filósofo alemão diz que só agimos moralmente quando isentos de qualquer determinação ou imposição para agir exterior a nós mesmos, estranha à nossa autonomia para decidirmos ou escolhermos por deliberação própria. Isso porque a verdadeira moral tem como pressuposto básico a liberdade que é indissociável da razão prática com a qual estruturamos nossas ações. É por meio da razão livre que percebemos que somos capazes de constituirmo-nos  a nós mesmos, ou seja, de delinearmos nosso telos conforme a orientação que damos à nossa vontade. Descobrimos, assim, que o homem é um fim em si mesmo e que se depara com seus semelhantes ciente de que eles também são portadores do mesmo potencial de liberdade intrínseco á razão. Por isso, a convivência entre seres potencialmente livres deve ser estruturada por normas de convivência que respeitem essa liberdade. Isto só é possível com o exercício permanente da racionalidade reveladora de princípios universais capazes de gerar normas de convivência entre todos os seres racionais.

Portanto, a moral universal é aquela que leva em conta a liberdade individual mas a coloca em permanente tensão com a liberdade de todos os seres humanos, uma vez que, para Kant, precisamos supor uma comunidade de vontades a priori para pensar a liberdade como razão prática. A liberdade só pode ser pensada, então, como relação da liberdade de cada pessoa com todas as outras liberdades individuais.

II-O valor moral de uma conduta depende dos motivos e os motivos são dados pela máxima que o agente aplica ao decidir o que fazer. Como Kant justifica a afirmação acima?

Para saber se deve ou não agir de determinada forma, uma pessoa consciente deve formular para si mesma uma pergunta, ou máxima, cuja resposta irá fornecer os motivos que podem nortear sua conduta. Para saber se as ações orientadas pela resposta serão verdadeiramente morais, é preciso verificar se elas serão ações livres de determinações exteriores à pessoa ou se apenas cederão a impulsos e/ou coações do plano sensível a que estamos sujeitos. Para Kant, as ações morais vão de encontro (no sentido de contrariarem) às determinações comuns ao plano sensível, pois são ações que fazem sobressair o que a humanidade tem de mais peculiar e de mais grandioso: a liberdade. Assim, uma vez que os motivos escolhidos sejam os que levam em conta a liberdade, a ação seguirá os princípios da racionalidade que tende à universalidade ( a racionalidade nos leva à universalidade) pois a liberdade referida por Kant é em seu mais amplo sentido: liberdade que leva em conta o respeito à liberdade de todos e de cada um em particular. A razão, sendo livre em si, não pode prescindir da liberdade.

III- Segundo Hegel, na eticidade há a identidade entre vontade subjetiva e o bem comum, ou seja, há a presença dos momentos de subjetividade e de objetividade.

Explique o que é afirmado acima e tente construir o processo de conciliação entre subjetividade e objetividade.


Hegel sustenta que a eticidade substancializa-se na cultura, instância mediadora de nossa relação com o mundo e com as outras pessoas e onde se dá a dimensão do universal humano. Todos já nascemos, portanto, universalizados porque nascemos no seio de uma cultura. No decurso da vida, entramos em contato com os múltiplos valores transmitidos pela cultura, valores com os quais vamos constituindo nossa própria subjetividade em um processo constante de assimilações, associações, interpretações, expressões, enfim, todo tipo de relação que estabelecemos com o mundo físico e com os outros seres racionais. É por isso que, para Hegel, subjetividade e objetividade não estão isoladas uma da outra como nos fazia pensar a tradição da modernidade. Para ele, a afirmação da subjetividade só ocorre no âmbito da eticidade que se manifesta historicamente. O pensamento hegeliano é circular, pois tem no indivíduo apenas um momento do processo de universalização. Em sua relação com o mundo, o indivíduo abandona sua singularidade e retorna a si mesmo mas nunca no mesmo ponto de partida uma vez que elevou-se no plano da universalidade. Dito de outro modo, a razão (universal) não elimina a esfera do sentimento (subjetiva e restrita ao indivíduo) mas a supera, assume-a, tornando-a inteligível, conceitualizando-a. Graças a esse processo de universalização há a possibilidade de comunicação das consciências. Ao contrário da filosofia kantiana, que considerava o universal como algo transcendente, a filosofia de Hegel concebe o universal como o que emerge historicamente e possibilita o ser do homem. Este, portanto, não é mais o sujeito que constrói por si só a própria subjetividade, como se estivesse separado do mundo em uma posição solipsista que caracterizou a modernidade. Tampouco, para Hegel, a subjetividade que se dá na singularidade do sujeito é eliminada: ela é, sim, parte constituinte do todo da dimensão humana integrado em suas múltiplas contradições. É assim que Hegel supera o dualismo legado pela modernidade. Para o filósofo, individualidade e universalidade não se excluem uma à outra mas são partes de uma mesma dinâmica em que se retroalimentam ou se contradizem, não podendo ser pensadas separadamente.

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