Este texto é um resumo das quatro principais
perspectivas filosóficas sobre a natureza desde Platão e Aristóteles: a
defendida por estes dois filósofos gregos e as concepções dominantes na Idade
Média, na Idade Moderna a partir de René Descartes, e no mundo contemporâneo, em
que se destacam críticas à modernidade e uma renovadora visão da ética atrelada
à natureza.
Na Antiguidade, a natureza era considerada a dimensão totalizadora da realidade, a realidade suprema que a tudo abrangia: tanto a ordem do mundo sensível quanto as dimensões humanas da Ética e da Política. Para Aristóteles, a natureza possuía o telos para o qual tudo se direcionava, o sentido último de tudo que existe. Os valores morais, portanto, deveriam se orientar pelo Bem indissociável da natureza e capaz de guiar nossas ações.
Essa perspectiva foi esvaziada a partir da Idade
Média, quando passou a vigorar como hegemônica a doutrina cristã. Este
esvaziamento da natureza como portadora do “telos”
de tudo deveu-se ao fato de a filosofia cristã colocar Deus como o fim supremo
a que tudo se destina, instância do Bem por excelência que a tudo orienta e
atrai, sendo Ele, portanto, o princípio que norteia a conduta humana na via da
perfeição. A natureza seria, para Santo Agostinho, não mais que um espelho a
refletir o espírito divino mas que não ofereceria o caminho mais seguro até
Deus. Este caminho deveria ser encontrado na alma humana, já que o homem foi criado à
imagem e semelhança de seu Criador. Esta desvalorização da natureza acabou por
provocar o abandono das pesquisas empíricas ligadas aos fenômenos naturais.
Na Idade Moderna, principalmente a partir de
René Descartes, teve início o processo de dessacralização da natureza, que passou a ser vista como objeto a ser explorado pelo sujeito posto à parte dela. Cabe ao sujeito do conhecimento encontrar os métodos mais eficientes
para manipular a realidade material.
Assim, a natureza vai deixando de ser pensada filosoficamente para ser considerada instrumentalmente. Para os filósofos modernos, a natureza poderia ser comparada a um relógio, a um mecanismo que funciona com precisão, cabendo ao homem desvendar todas as formas de interação (e seus desdobramentos) das partículas invisíveis e indivisíveis que compõem o cosmos.
Assim, a natureza vai deixando de ser pensada filosoficamente para ser considerada instrumentalmente. Para os filósofos modernos, a natureza poderia ser comparada a um relógio, a um mecanismo que funciona com precisão, cabendo ao homem desvendar todas as formas de interação (e seus desdobramentos) das partículas invisíveis e indivisíveis que compõem o cosmos.
A natureza é tomada como sendo indiferente
às questões humanas, como máquina isenta de valores éticos e morais. Com relação à Ética, a solução de
Descartes foi criar uma moral provisória para lidar com as situações em que decisões
imediatas se apresentavam necessárias. Como o filósofo não se aprofundou no desenvolvimento
de sua teoria moral, o que prevaleceu foi sua abordagem teórica do conhecimento a qual veio a se tornar uma espécie de metafísica artificial.
Os desdobramentos da concepção moderna de
natureza levaram filósofos e cientistas da contemporaneidade a uma crítica
radical deste modelo. Para eles, as consequências dramáticas da modernidade não são apenas parte
de roteiros de cinema mas se fazem presentes em nosso cotidiano. Catástrofes e
acidentes ambientais são vistos por uma perspectiva política, como resultado da contínua ação exploratória que visa apenas o lucro.
Por isso, no mundo contemporâneo, tem se desenvolvido uma
nova ética que serve de contraponto à concepção moderna de natureza. Uma ética
que, em vez de oferecer princípios para serem aplicados à vida, toma a própria
vida como princípio fundamental de sua constituição. Além disso, a própria
ciência vai, aos poucos, evoluindo no sentido de abandonar uma lógica
determinista em favor de uma visão que se aproxima mais da imponderabilidade
dos fenômenos ligados à natureza.
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