quarta-feira, 10 de abril de 2013

A HERMENÊUTICA DE SCHLEIERMACHER


A compreensão hermenêutica Friedrich D. E. Schleiermacher.





Nos textos reunidos no livro “Hermenêutica, arte e técnica da interpretação”,Friedrich D.E.Schleiermacher expõe as limitações que encontra na interpretação hermenêutica que se fazia até as três primeiras décadas do século XIX. Ele critica filósofos e teólogos que seguiam o modelo tradicional com regras de compreensão específicas para cada área do conhecimento e propõe uma visão mais ampla desta arte interpretativa. Neste sentido, reúne elementos comuns que fazem com que a hermenêutica contribua na compreensão das diversas obras sobre as quais é aplicada e, a partir daí, começa a traçar seu conceito mais amplo e universal. Este conceito torna muito mais extensa a tarefa da hermenêutica que não fica mais restrita às Sagradas Escrituras, Clássicos da Antiguidade e textos jurídicos mas se estende por obras de todos os estilos, períodos e alcances intelectuais, abarcando ainda as conversações, discursos imediatos e obras não literárias.
O autor do livro delimita a área de atuação da hermenêutica entre as situações em que haja pelo menos algo em comum entre o intérprete e o autor da obra e, nesta, pelo menos algo de estranho que se queira conhecer. Para levarmos o procedimento interpretativo adiante, ele nos fornece algumas chaves que encontra nos hermeneutas de sua época e outras que ele mesmo propõe no sentido de tornar a interpretação mais precisa e totalizante. A proposta original de Schleiermacher é fazer com que a interpretação contemple as características linguísticas gerais e individuais de cada autor associadas ao exame psicológico mais profundo deste. Assim, o resultado do trabalho pode evitar o pedantismo - comum aos que fazem análises e comparações rebuscadas mas se esquecem do autor como um homem por inteiro - além de reduzir o risco de atribuir ao autor intenções que ele nunca teve - erro muito frequente entre os que conhecem bem o homem mas não têm domínio da linguística. 
Para Schleiermacher, as análises linguística e psicológica devem ser perpassadas pelos métodos de compreensão histórico-comparativo e intuitivo-divinatório. O primeiro se detém, por exemplo, ao exame das particularidades de uma obra dentro do contexto mais amplo das obras do mesmo gênero publicadas ao longo do tempo. O segundo prescinde de uma demonstração científica mas requer do intérprete uma visão abrangente de tudo o que envolve a obra - sua época, lugar, acontecimentos que a influenciaram, personalidades do autor e de seus pares contemporâneos, etc – para que o sentido mais amplo possível possa ser intuído como algo que alinhava todos os aspectos do contexto e que poderia ser chamado o espírito vivo da obra. Para o autor do livro, a adivinhação também se torna possível porque cada um de nós é uma manifestação do viver total, o que quer dizer que todos têm em si um mínimo de cada um dos demais e pode, por comparação consigo mesmo, compreender o outro.



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