domingo, 16 de dezembro de 2012

PLATÃO X ARISTÓTELES.






A maior parte da filosofia de Aristóteles era naturalista e empirista, ao contrário da filosofia de Platão que enfatizava o mundo da ideias, para ele um mundo supremo, superior e independente do plano físico, considerado mera projeção das ideias que existiriam por si sós. A valorização aristotélica do mundo empírico que, para Platão, é visto como falho e insuficiente por estar sujeito a mudanças e à decomposição, foi como uma implosão das bases que sustentavam o "céu" platônico, realidade transcendental que só poderia ser contemplada aparteada de nossa materialidade concreta.
          A profunda desconfiança naquilo que apreendemos por meio dos sentidos implicava a projeção para fora de nossa vida cotidiana de um mundo perfeito, ideal, que poderíamos vislumbrar depois de uma reeducação de nossas almas, já que estas, um dia, tiveram contato com as puras ideias e preservam a memória desse convívio. Se, para Platão, a realidade transcendente das ideia é que provoca a existência e dá sentido às coisas do mundo empírico, para Aristóteles são as coisas mesmas, concretas, que, depois de observadas e compreendidas pelos homens, revestem-se formas, ou seja, passam a constituir as ideias que nos fazem compreender o mundo.
          Em tais questões relativas às considerações do corpo físico e à imortalidade da alma, a sensibilidade de Platão demonstrava  as influências que sofrera a partir do contato com a escola pitagórica e com as religiões de mistério, principalmente o orfismo.  Estas influências que se faziam muito presentes na Grécia Antiga, eram parte da mentalidade de uma época, daí o motivo pelo qual as ideias de Aristóteles causaram espanto e até escândalo entre os gregos.  Uma vez que o mundo dos sentidos, para o estagirita, poderia ser a sede do conhecimento humano bastando, para isso, observar padrões e processos empíricos, o enfoque religioso e transcendental passa a se desvalorizado. O dualismo platônico que em suas formulações mais extremas acarretava uma total ruptura das Formas em relação à matéria, é desfeito por Aristóteles para quem as coisas são, cada uma delas, uma entidade vital composta produzida pela união da Forma com a matéria numa substância. Agora, a Forma só pode existir se estiver incorporada na matéria, formando com ela uma substância.
          O escândalo causado pelas ideias do estagirita no mundo grego continuou a se propagar pelo mundo ocidental no decorrer dos séculos. Issos porque o Cristianismo que ganhou forças no mundo ocidental  teve suas primeiras bases filosóficas influenciadas, principalmente, por Sócrates/Platão e sua teoria dos dois mundos cuja visão subjugava o corpo por considerá-lo  uma prisão da alma. A Patrística, nome dado à Filosofia Cristã dos sete primeiros séculos, foi elaborada pelos padres da Igreja. Consiste na elaboração doutrinal das verdades de fé do Cristianismo, usada também na defesa contra os ataques dos "pagãos" e contra as heresias. Seu principal expoente foi Santo Agostinho que cristianizou algumas das ideias platônicas, o que permitiu um fortalecimento do culto cristão e a ascensão do poder eclesiástico.

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