domingo, 16 de dezembro de 2012

Eudaimonia em Aristóteles

No texto "Eudaimonia e Bem Supremo em Aristóteles", Marco Zingano se propõe a dirimir, de uma vez por todas, as dúvidas com relação a estes dois termos considerados fins pela doutrina aristotélica. De acordo com o autor, desde os primeiros comentadores da obra de Aristóteles, há controvérsias quanto ao que de fato o filósofo entende por eudaimonia e bem supremo. Com relação à primeira, há duas interpretações tidas como possíveis ao longo da história: há  estudiosos que conceituam eudaimonia como um fim dominante, quer dizer, um fim único alcançado graças ao somatório de todos os outros fins que levam até ele; e há os que compartilham de uma definição mais flexível, afirmando que Aristóteles define o termo como sendo um fim inclusivo de segunda ordem, um fim que requer outros fins para ser alcançado mas cuja essência consistiria não num mero somatório de fins, mas na harmonia entre os fins primários, aqueles que a compõem e pelos quais se chega à eudaimonia.
          Para defender seu ponto de vista inclusivista a respeito das definições de  eudaimonia e bem supremo, Marco Zingano analisa linguisticamente alguns trechos importantes da obra do filósofo grego que tratam dos termos. Além disso, se empenha em fazer a interpretação dentro do contexto do sistema aristotélico, buscando a definição de um termo não só nas referências diretas a ele ( já que a adoção exclusiva desta atitude pode aumentar as chances de confusão linguística ) mas também nos escritos a respeito de termos correlatos.  No caminho argumentativo para  validar sua posição, Zingano nos revela que, para Aristóteles, existe uma certa hierarquia de fins, sendo os de maior valor aqueles conquistados por meio do intelecto. Como exemplo, é citada a felicidade que só é verdadeira (a felicidade primeira) quando conquistada por meio de deliberação responsável, a deliberação humana que tem consciência, que conhece a razão e os valores dos meios e dos fins escolhidos. A felicidade seria, assim, uma atividade segundo virtude perfeita, quer dizer, a virtude moral acompanhada de virtude intelectual. Existiriam outros fins considerados hierarquicamente inferiores por não serem fruto de deliberação racional, entre eles  estão as virtudes adquiridas apenas pelo hábito que não seriam suficientes para nos levar à felicidade primeira. A deliberação racional também é tida como indispensável para produzir  a eudaimonia. No livro Ethica Nicomachea X , Aristóteles defende a tese de que a atividade segundo a virtude intelectual é que produz a eudaimonia.
          Um outro aspecto da noção de felicidade é tomado para a argumentação  de Zingano a favor da teoria inclusivista, qual seja, o dado de que a felicidade é considerada por Aristóteles um bem em si mesmo, que é perseguida em vista dela mesma, não podendo existir em vista de outra coisa. Sendo assim, não pode haver felicidade maior ou menor conforme o acréscimo ou redução das virtudes que a compõem, já que seria um absurdo lógico imaginar que um fim em si mesmo pode ser maior ou menor que ele mesmo. Assim também é a definição de eudaimonia, uma vez que esta é considerada como supremamente preferível.  O conceito se comporta  de forma correlata ao de felicidade, não podendo ter a mesma titulação que os outros bens: se isso ocorresse, sendo-lhe somado o menor bem possível, a eudaimonia  não seria a mais preferível pois este maior valor seria dado ao resultado da soma.  Zingano segue esta mesma linha de raciocínio na definição de  bem supremo como um bem inclusivo, aquele que inclui bens em si, sem estar ao lado destes em posição de valor: é um fim de segunda ordem. O conceito de forma ajuda a compor a definição: entendendo-se forma como o resultado do conjunto formado por várias partes, o sentido e o fim deste conjunto, o bem supremo seria a forma que informa uma multiplicidade de fins conquistados por meio de virtudes primeiras, as virtudes  morais e intelectuais.

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