sábado, 2 de novembro de 2013

A CONSTANTE AMEAÇA DO NAZI-FASCISMO.

Comentário sobre o filme "A onda fascista" - Alemanha,2008; Direção: Dennis Gansel. 






O filme “A onda fascista” nos mostra o processo e os resultados de uma experiência pedagógica feita com estudantes em uma das fases mais críticas da formação da identidade pessoal, a adolescência. É uma fase de maior angústia por conta da necessidade de tomar decisões que dizem respeito à própria vida, angústia que pode levar muitos adolescentes a atitudes que prometem anestesiar este sofrimento, como, por exemplo, o uso de drogas ou a filiação a grupos extremistas.  No filme, a experiência levada a cabo pelo professor de reproduz, em sala de aula, as principais características de um regime autoritário, demonstra como os adolescentes estão propensos a participar de grupos em que, supostamente, encontrariam suporte emocional, solidariedade e a proteção de um líder que seria capaz de guiar a todos ao tomar decisões em nome da coletividade, retirando de cada um o fardo das decisões  pelo próprio destino.

“A onda fascista” serve de alerta para a o risco oferecido por  grupos que dariam aos seus membros uma identidade previamente definida, programada, como um porto seguro onde questões existenciais estariam supostamente resolvidas e controladas. Participar do grupo seria, assim, manter a mente em uma zona de conforto semelhante a um imaginário útero psíquico que nos isentaria de conflitos morais uma vez que abdicamos da nossa capacidade de reflexão para seguir cegamente as determinações de um líder.

Uma ideologia autoritária que leva à formação de grupos, vai de encontro às teorias psicanalíticas que definem a identidade pessoal como algo que nunca é fixado em definitivo, imutável, permanente, mas sim como um processo, uma contínua construção pessoal que, justamente por isso (por ser pessoal), faz de cada um de nós um ser humano diferente dos demais. É no exercício da liberdade que “nos fazemos”, decidindo e escolhendo de acordo com aquilo que projetamos para o futuro. Entregar a um líder o poder de decidir e escolher sobre si próprio, sobre valores a serem adotados, aparentemente livra uma pessoa da angústia da tomada de decisões, mas, um dia, uma tal abstenção cobra seu preço em forma de um sentimento de extrema apatia ou depressão por encontrar-se violentado o princípio que mais nos faz humanos, que mais nos destaca da natureza: o princípio da liberdade.

No que se refere ao conceito de personalidade, o filme nos mostra o quanto a reprodução de ideologias autoritárias interfere no modo de ser e de agir dos que as  adotam já que a personalidade é formada pela interação de aspectos interiores e exteriores ao sujeito, ou seja, por uma combinação de fatores que definem as atitudes de uma pessoa dentro dos diversos contextos sociais em que ela pode estar imersa. Assim, há sempre um grau de coerência nos comportamentos que, nos regimes autoritários, são estimulados a exacerbar a agressividade e a violência, como bem o mostram diversas cenas do filme. Se esse distúrbio emocional volta-se para o exterior, para destruição até mesmo física do outro, há também um tipo de sentimento, potencializado pelas ditaduras fascistas, que se volta para uma destruição  interior, a da própria personalidade: é a submissão doentia a uma hierarquia verticalizada que impõe o medo por meio da violência e que pretende justificar-se afirmando ser necessária para a coesão do grupo.  No filme, esse transtorno de personalidade estimulado pelo ambiente é representado pelo estudante que passa a andar com uma arma de fogo nomeando-se uma espécie de chefe da guarda do professor que assumiu o papel de ditador.


Assim, a mensagem deixada pelo filme é a de que os jovens expostos a um ambiente  em que predomina o autoritarismo, têm grandes chances de moldarem suas personalidades potencializando comportamentos egoístas e violentos. Isso ocorre porque um tal ambiente faz reduzir, para os que nele convivem, o espectro de socialização por causa da impossibilidade que se cria de aceitação das diferenças sociais e culturais existentes fora do grupo. As implicações psicológicas de um regime autoritário são, portanto, as piores possíveis pois, ao nos despojar de nossa liberdade de escolha e julgamento, a ditadura nos torna menos humanos pois o que o que mais caracteriza a nossa espécie é o uso da razão para refletir e julgar por conta própria. Sendo menos humanos, ficamos próximos à fronteira da animalidade, dos seres que reagem irrefletidamente, apenas por instinto. Por isso, personalidades influenciadas por regimes despóticos, recorrem à violência ante qualquer fato que apenas suponham ser ameaçadores. A ação irrefletida é motivada por uma ideia cristalizada a qual costumamos dar o nome de preconceito. 

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