segunda-feira, 25 de novembro de 2013

A IDEIA EM KANT E EM OUTROS QUATRO.


 A IDEIA EM KANT COMPARADA AOS CONCEITOS DE IDEIA EM PLATÃO, DESCARTES, LOCKE E HUME.

Para Immanuel Kant, a ideia se faz por meio dos conceitos puros da razão que utiliza a unidade das regras do entendimento para atingir certos princípios que lhe conferem uma unidade racional. Ou seja, a unidade sintética das intuições (que é obtida de acordo com as normas das categorias), quando submetida à forma dos raciocínios, dá origem aos conceitos puros da razão ou ideias transcendentais. A ideia é, portanto, o incondicionado a que podemos chegar partindo do condicionado pelo entendimento. É também um conceito necessário da razão que não se originou de nenhum objeto sensível sendo, por isso, chamada transcendentaL. Ainda de acordo com o filósofo alemão, a ideia se forma devido à insatisfação da razão com o múltiplo dado na intuição, podendo ser definida como uma totalidade incondicionada, que está além de toda experiência possível. 
 
Este conceito de ideia kantiano diferencia-se do de Platão pelo fato de este último considerar as ideias como sendo algo muito mais que chaves para experiências possíveis, como sugeriu Kant: seriam, isto sim, arquétipos das próprias coisas derivadas da razão suprema que as transmitiu à razão humana. Assim, Platão elimina qualquer possibilidade de as ideias terem, como ponto de partida para serem formadas, a interação direta de nossa estrutura cognitiva com o mundo. Ora, isto se opõe ao pensamento kantiano para o qual o primeiro estágio de formação das ideias se dá pelas sensações, quando configuramos o mundo de acordo com o espaço e o tempo que são formas da sensibilidade.

O conceito de ideia de René Descartes assemelha-se ao de Platão quanto ao descrédito dado aos sentidos para nos fornecer elementos para formação de ideias verdadeiras. Segundo Descartes, o que garante a existência, em nós, de ideias claras e distintas é a ideia que posso ter de um ser perfeito, Deus, uma ideia inata e da qual não sou uma causa. É esta ideia que posso ter da substância infinita e da qual não posso duvidar que, segundo Descartes, permite a afirmação da existência do mundo exterior a nós. Assim, o conceito cartesiano de ideia contraria o conceito de Kant pois este não acredita em ideias inatas mas apenas em estruturas inatas que nos possibilitam a formação de ideias. São essas estruturas que garantem à nossa razão a capacidade de, em contato com o mundo, elaborar por si própria as ideias que fazemos do mesmo. Em vez de desconfiar dos sentidos, como o faz Descartes, Kant afirma que ideias verdadeiras são as que estão conectadas a este processo de elaboração de ideias pela nossa razão e que começa pelas sensações.

Para o filósofo John Locke, todas as ideias provêm da experiência que, ao longo da vida, vai deixando marcas em nossas mentes. A mente funcionaria como um receptáculo das sensações, o lugar onde estas, de uma em uma ou reunidas se uniriam à reflexão para formarem ideias simples. Ideias complexas seriam originadas por um conjunto de ideias simples. Portanto, para Locke, sensação e reflexão - que é um voltar-se da alma sobre si mesma para perceber o que nela ocorre - seriam as duas fontes do conhecimento. A grande diferença dos pensamentos de Locke e de Kant é que o primeiro acredita que as ideias que formamos na mente reproduzem fielmente a realidade mesma das coisas. Teríamos, portanto, em nossas mentes, um espelho da realidade, um aparato que nos possibilita ter acesso à verdade por ser capaz de obter uma correspondência do pensamento com a realidade. É uma teoria que nos conduz à problemática da metafísica já que o filósofo empirista não consegue precisar o que estaria por debaixo das diversas qualidades, sensações e impressões que as coisas nos produzem. Tanto é assim que Locke chama a coisa em si ou substância de “um não-sei-quê”. Kant, ao contrário, não acredita que podemos pensar a realidade como ela é de fato, em si mesma. Defende que só conhecemos das coisas que nos são dadas na experiência aquilo que delas temos a capacidade de captar por meio da estrutura cognitiva que nos é própria, ou seja, somos limitados para a compreensão do mundo, porém, não somos meros receptáculos passivos da realidade, mas sim sujeitos que construímos um sentido próprio para as coisas usando nossa razão e seus processos e métodos de compreensão do mundo.

Para David Hume, ideia é um tipo de percepção da mente formada a partir de uma ou mais impressões que são percepções imediatas e que ocorrem sempre no presente, no aqui e agora. Para o filósofo empirista, as impressões são muito mais vívidas que as ideias que seriam como retrados quase apagados ou cópias desbotadas das impressões. Como o conhecimento nos é dado pela experiência, ao entendimento humano não caberia nada além de associar corretamente as ideias de forma que estas correspondam à realidade que se nos apresenta de forma regular. Kant não desconsidera a importância da experiência para que possamos formar nossas ideias mas, segundo ele, para o desempenho desta tarefa a experiência só não basta. De acordo com o filósofo prussiano, ao contrário de ser um sujeito que apenas reproduz em sua mente, de forma automática, o que se passa no meio exterior a ele, o homem é dotado de estruturas mentais pré-estabelecidas e também de sua liberdade que o ajudam a dar um sentido todo próprio à realidade. A ideia, para Kant, faz parte de uma instância superior da razão e não corresponde a nenhum objeto dado pelos sentidos. É uma resposta da razão à sua própria insatisfação com a multiplicidade dada pela intuição e é capaz de reunir esta multiplicidade numa totalidade incondicionada que se eleva para além das possibilidades de experiência.

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