quinta-feira, 5 de junho de 2014

A TEORIA CRÍTICA DA ESCOLA DE FRANKFURT.

OS FRANKFURTIANOS NA VISÃO DE OLGÁRIA MATOS.

Ao tratar do conteúdo programático da Teoria Crítica, Bárbara Freitag diz que “O fio vermelho que trespassa a obra de todos os autores é o tema do Iluminismo ou Esclarecimento”. Já em Kant, o “Esclarecimento (Aufklärung) significa a saída do homem de sua minoridade”; é a conquista da maioridade, da liberdade, da autonomia, através do uso público da razão. Porém, para os frankfurtianos, essa perspectiva otimista que vê no desenvolvimento da razão um processo que está a serviço da liberdade e da emancipação da humanidade, não apreende que a razão se atrofiou e no curso de sua história transformou-se em “razão instrumental". Seria a "razão instrumental" a causa do que Olgária Matos denominou de "pessimismo" dos Frankfurtianos em relação ao futuro da humanidade? Explique. Na leitura que faz das fases por que passou a Teoria Crítica, Olgária Matos identifica um pessimismo crescente dos frankfurtianos com a possibilidade de a Razão garantir a emancipação humana da forma como acreditavam os iluministas. O crescendo pessimista passa pela constatação de que o interesse emancipatório que se dá na experiência histórica e que deveria partir do proletariado não ocorreu. Isso por causa do desconhecimento em que se encontram os trabalhadores, o que os  impossibilita de serem ao mesmo tempo parte da realidade sócio-econômica e  sujeitos da práxis revolucionária.  Para os frankfurtianos, é improvável que o trabalho alienado seja  fator de desalienação social. Assim, de acordo com Olgária Matos, o processo histórico acabou revelando uma das maiores falhas da teoria marxista: a descrição ambígua da relação Sujeito e Objeto, hora identificando-os um com o outro, hora acentuando um absoluto dualismo.
O pessimismo frankfurtiano culmina na fase considerada por Abensour como a terceira  da Teoria Crítica. Nesta, a racionalização tomada pelos iluministas como emancipadora passa a ser denunciada como racionalização repressora do real. Constata-se, então, uma  ruptura profunda com a ideia hegeliana de progresso da história e com a tese marxista de um telos imanente que conduz à sociedade sem classes. Para os frankfurtianos, o risco de se acreditar numa tal necessidade histórica, é o da racionalização do sofrimento, ou seja, de se considerar como consequência necessária da evolução da Razão todas as injustiças passadas e os sofrimentos das gerações que já desapareceram. As certezas devem ceder lugar a uma concepção de História como processo descontinuo, sempre em aberto que, por isso mesmo, não garante identidade a grandes temas e/ou conceitos filosóficos como Natureza,  Cultura,  Matéria e, principalmente, a Razão.
Para a Teoria Crítica, a ausência desta concepção de História e, em vez dela, a crença nos desígnios necessários da racionalidade, levaram o marxismo a uma visão atrofiada da razão humana pelo que esta visão tem de absolutizante, totalizante e redutora. Dois dos sinais mais evidentes deste equívoco foram a passiva adaptação dos intelectuais aos proletários e a veneração religiosa pelo que seria a criatividades destes. Tais atitudes, que enfraqueceram ao invés de fortalecer os operários, acabaram por contribuir para o que pode ser considerada uma “trapaça” da Razão histórica: o absoluto esperado revelou-se não como o fim da sociedade de classes, destino inexorável da humanidade, mas como sociedade de total administração que, no dizer de Horkheimer, “(...) permite que alguém cometa todas as atrocidades possíveis sem sentir-se responsável; (...)”, uma denúncia flagrante do nazismo e do estalinismo, regimes que foram exemplos extremos do modelo de pensamento burocrático.      
A forma como a razão instrumental é capaz de se manifestar na História, portanto, dá aos frankfurtianos bons motivos para serem pessimistas quanto ao futuro da humanidade. Diante deste sentimento, porém, os filósofos da Teoria Crítica não pregam a resignação e a passividade, antes consideram a revisão teórica  arma fundamental para nos tornar capazes de assumir as rédeas da Razão e praticar novas atitudes políticas que visam, principalmente, fortalecer a individuação, antagônica da sociedade altamente administrada. Um dos caminhos para isso, seria, de acordo com Walter Benjamin, evitar que o pessimismo se transforme em uma espécie de dogmatismo, trocando-o por uma atitude melancólica de esquerda pois o melancólico é aquele que é capaz de preservar a memória individual e de conservar as esperanças cultivadas no passado.

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